Quando travamos o caminho do autoconhecimento deparamo-nos com as nossas fraquezas, limites, dificuldades, traumas e isso afeta-nos. Por isso, tantas vezes fugimos deste trabalho de descoberta interior.
Entretanto, o autoconhecimento é necessário para nos reinventarmos, isto é, quando eu me conheço a fundo, percebo as minhas reações, sei dos meus pontos fracos e dificuldades, mas conheço, igualmente, as minhas potencialidades, qualidades e isto dá-me um poder que desconhecia. Posso investir nas minhas potencialidades e persistir nas minhas qualidades, tirando um partido muito grande das minhas capacidades e contornar as dificuldades/limites. Posso, desta forma, encontrar o autocontrolo, um domínio de mim mesma, característica essencial para um equilíbrio emocional e maturidade de mim mesma.
Claro, que ir à essência pode ser bastante doloroso, portanto é preferível continuar a pensar que me conheço e apresentar algo de mim, que agrada aos que me rodeiam.
De manhã, antes de ir para o trabalho, depois de me arranjar, quantas vezes escolho uma "máscara" de mim mesma para esse dia? Pode ser a máscara da felicidade e por dentro estou a sangrar; pode ser a máscara da socialização, quando na verdade quero isolar-me e não falar com ninguém; pode ser a máscara da simpatia, quando me apetecia mandar todos à fava, tenho problemas demais, para andar com simpatias; pode ser a máscara da aparência, quando me visto de forma exacerbadamente bem, coloco toneladas de maquilhagem, para camuflar a insegurança que tenho em mim mesma e a feiura que acho que sou; entre tantas outras máscaras que pode acrescentar agora.
Quantas vezes usamos máscaras para parecermos ser quem não somos? Quantas vezes sinto que tenho que ter determinado comportamento/atitude para me sentir amada? Quantas vezes digo o que não penso, expresso o que não sinto e faço o que não quero? Qual o preço que pago para ser quem não sou e sentir-me amada/desejada e até venerada? Contudo, é no canto do meu quarto, debaixo dos cobertores até, que choro amargamente por não ser quem sou, por não ter a bravura de me conhecer e de me dar a conhecer. Quando vou ter essa coragem de arrancar esta máscara que me mantém prisioneira nesta escuridão? Fui criada para a liberdade, para o amor, porque rejeito isto em mim?
O percurso de descoberta interior leva-me ao meu vale escuro: onde é que eu não quero ir (em mim)? O que me custa recordar? O que escondo de mim mesma? Onde eu não quero tocar? Coragem! Ânimo! Pense nesses momentos, agora. Recorde a sua essência, quem você é, verdadeiramente? O que ninguém vê que eu faço? O que ninguém vê que eu sou? Que atitudes tive que me deixam agarrada à culpa e não consigo libertar? Que traumas carrego, que não me deixam gerar vida em mim? Que acontecimentos me marcaram, que criaram em mim medos de outras pessoas, medos de sair da minha zona de conforto, medos do futuro, ansiedades exageradas que paralisam os meus movimentos?
Preciso aceitar quem eu sou! Com tudo isto dentro de mim, que me molda e determina a minha personalidade. Mas como vimos, no artigo anterior, eu não sou só o que me acontece e creio na graça de Deus sobre mim e na minha história.
Entretanto, onde estão as minhas qualidades, potencialidades? Preciso procurar em mim o que há de melhor, o que brilha, o que é dom? As minhas potencialidades levam-me sempre mais além, onde será que posso chegar?
Perante isto, será que vou insistir todos os dias em escolher a máscara para aquele dia? Ou vou aceitar quem eu sou, sem medo de não ser amada, notada, valorizada? Que importa? Não será mais gratificante a minha liberdade interior? As pazes comigo mesma?
Marta Faustino
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