Ser mãe e pai hoje é muito diferente de há uns anos. Este papel vai evoluindo em estreita ligação com a sociedade.
Não há muito tempo, os filhos eram vistos como mão de obra para o campo e cresciam, um pouco, à mercê uns dos outros, os pais sempre ocupados com a vida do campo e preocupados em ensinar as artes de engenho aos pequenos não lhes sobrava tempo para carinhos e outros cuidados. E temos, ainda, entre nós, os nossos avós e pais que viveram esse tempo e, muitos trazem as marcas vividas do desprezo com que foram tratados, da solidão em que viveram, do maltrato que sofreram.
Hoje, a sociedade está alertada para a necessidade de se ver a infância como um tempo que deve ser bem vivido e privilegiado, pelos pais e restantes adultos, como o momento fulcral de dar atenção, carinho, diversas vivências, com o intuito de termos crianças saudáveis a todos os níveis, incluindo, o emocional.
Contudo, não podemos passar do 8 para o 80, do desprezo que era dado à infância para um mimo desmedido, pois maltratamos, de uma outra forma, os nossos filhos. É necessário encontrar um equilíbrio.
Existem, atualmente, imensas e diversas teorias sobre educação e parentalidade e se ficarmos presos a isso damos em doidos. É importante termos alguns conceitos base, escutarmos algumas correntes e alguns profissionais, mas não esquecer de ouvir os nossos pais e avós e, ainda, a nossa intuição. Sim, esta deve ter o papel mais importante na hora de tomar decisões para uma boa educação dos nossos filhos.
Todos sabemos da necessidade de criarmos vínculos fortes, intensos, calorosos e securizantes para os nossos filhos e não existe uma regra, pois cada filho é diferente e cada pai e mãe também. Mas esta é a base de uma boa educação: criarmos bons laços afetivos com os nossos filhos, pois isto transmite-lhes a segurança necessária para acreditarem neles mesmos, nas suas capacidades e potenciais, bem como, terem a certeza de que são amados e de que estaremos sempre ao seu lado para o que necessitarem.
Como poderemos, então, criar um bom vínculo com os nossos filhos? Não quero deixar uma receita mágica, mas partilhar alguns aspetos chave que devemos estar atentos, como:
ceder tempo para estar com eles, a maior prenda que lhes podemos oferecer é TEMPO! Precisamos participar das suas brincadeiras, estar perto deles, gargalhar com eles, inventar brincadeiras, conhecê-los mais profundamente, passear, ir a sítios que gostem, escutar o seu dia na escola (ainda que canse!), participar dos trabalhos de casa (é, também, uma boa forma de sabermos como está a aprendizagem deles e estarmos atentos a alguma dificuldade ou situação que possa estar acontecer na escola), perguntar aos nossos filhos como se sentiram durante o dia. Há um hábito que temos em família que é, assim que chegam ao carro, perguntamos como foi o dia e o que deixou o teu coração triste e contente durante o dia. Esta é uma forma de os estimularmos para uma consciência emocional, eles falarem do dia e nós percebermos como andam na escola e o que andam a fazer; outro aspecto é EMPATIA, conseguirmos estar muito atentos ao que vão sentindo, à forma como reagem perante uma atitude nossa e podermos ajudá-los a desenvolver consciência emocional e gestão das suas emoções. Os nossos filhos precisam de orientação para viver de forma saudável a sua vida emocional e precisam de ter a certeza de serem amados e a empatia tem, igualmente, esse papel. A empatia também nos aproxima uns dos outros e cria uma ligação especial ao ponto de chegarmos a uma cumplicidade e a um conhecimento tão profundo que já antecipamos o que o outro necessita ou está a pensar e isso demonstra uma boa vinculação entre pais e filhos.
Então, estarmos atentos à nossa intuição e criarmos bons laços afetivos com os nossos filhos é o mais importante e termos presentes que pais perfeitos não existem, mas que nós somos os melhores pais que os nossos filhos poderiam ter!
Marta Faustino
Psicóloga Clínica
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