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Autodistanciamento e humor: a chave para o equilíbrio emocional



Na logoterapia percebemos que o Homem tem em si a capacidade de superar os diversos sofrimentos que lhe surgem na vida. Nesta corrente psicológica, constata-se que o Homem é capaz de sobreviver a situações adversas devido à capacidade de autotranscendência e autodistanciamento. Isto é, o ser humano tem em si a capacidade de se elevar acima de si, para se encontrar e doar-se ao outro, questionar-se, confrontar-se com o sentido da vida e posicionar-se perante as diversas situações limite da vida. Quanto mais o Homem se esquece de si mesmo e se dedica a algo ou alguém, mais humano se torna.


Nas palavras do autor da logoterapia, Viktor Frankl: “O Homem é capaz de distanciar-se não apenas de uma situação, mas de si mesmo. Ele é capaz de escolher uma atitude com respeito a si mesmo e, assim fazendo, consegue tomar posição, colocar-se diante dos seus condicionamentos psíquicos e biológicos (…). Assim, o que importa, logo, não são os condicionamentos psicológicos, nem os instintos por si mesmos, mas, sim, a atitude que tomamos diante deles. É a capacidade de posicionar-se dessa maneira que faz de nós seres humanos.[1]


O que Frankl nos diz é que, independente das circunstâncias da vida, nós temos sempre a opção de escolher a nossa atitude perante essa adversidade. Através do autodistanciamento o Homem torna-se objeto de exame de consciência de si mesmo. É como estar sentado numa cadeira e imaginar-se noutra a observar-se a si mesmo (os seus comportamentos, reações, sentimentos). É pensar sobre si mesmo de forma distanciada. Só assim conseguimos ver a situação de diversos prismas e não ficarmos focados, somente, num lado. Isto acontece quando: deixamos de, constantemente, acusar o outro, ficar preso só nos seus defeitos, no que o outro podia ter feito de diferente; não ficamos presos no sonho de uma vida, se determinada situação não tivesse ocorrido; desprendemos do limite que determinado sofrimento nos causa e tentamos ver o que podemos fazer dentro desse limite; não deixamos que certas acusações e julgamentos nos aprisionem num casulo interior; entre tantas outras situações.


Esta capacidade humana é sinal de saúde mental, pois certas pessoas têm muita resistência ao autodistanciamento, ficam fechadas sobre si mesmas, no seu mundo, deixam-se dominar pelas suas dores, fraquezas, vícios, deleitam-se nas suas queixas, dificuldades, limites, como se tudo estivesse contra eles.


O autodistanciamento está interligado a outro sinal de sanidade mental: rir de si mesmo, o humor. Uma pessoa que sabe rir de si, sabe, da mesma forma, distanciar-se, observar-se, questionar-se, pensar sobre si mesma, ver além da situação/sofrimento e posicionar-se. Quando alguém ri dos seus problemas provoca uma distância entre o seu eu e o problema, logo o humor ajuda o Homem a ser ‘dono de si’, pois posiciona-se acima do seu problema para ‘dominá-lo’. Esta capacidade permite à pessoa compreender que ela não é a situação/sofrimento, não é o que lhe acontece, não é o seu limite. Desta forma, ao distanciar-me de uma situação eu tomo posse de mim, das minhas reações e comportamentos perante o sofrimento, logo deixo de agir num impulso, mas domino as minhas paixões, pois passo a compreender e ver além.


O autodistanciamento está ligado à autocompreensão, pois à medida que me vou distanciando de mim vou-me percebendo, analiso as minhas reações, relativizo-as, questiono-me e tomo decisões perante os meus comportamentos.


De forma prática, posso começar a treinar o autodistanciamento quando acontece algo que me deixa cheia de raiva, mas antes de agir (partir para a agressão verbal ou física), vou tentar ver além, o que sinto? Porque me incomoda tanto? O que pode acontecer de pior? Como posso reagir? Assim, vou controlando a agressividade em mim e dou uma resposta diferente. Aos poucos estou a treinar esta capacidade e, quando um sofrimento, ou situação extrema, surgir já serei capaz desse autodistanciamento.

[1] Frankl, V. (2011). A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da Logoterapia. São Paulo: Paulus. P.27.


Marta Faustino

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