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O Natal é Família: nós e os outros

O Natal está a chegar e, como todos os anos, envolto no mesmo frenesim: jantares sucessivos, festas, trocas de prendas, amigos secretos e um conjunto de solicitações. Há compras feitas à pressa, filas intermináveis e a necessidade de mostrarmos disponibilidade, alegria e presença social. Corremos de um lado para o outro, quando muitas vezes o que realmente precisamos é de uma pausa. Falamos tanto da “magia do Natal”, mas o que mais vemos é gente cansada, relações fluidas e sorrisos fatigados. Confundimos estar com ser, e o Natal vivido desta forma mostra-o.

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Por detrás de tudo isto, cada pessoa traz consigo um mundo. Há quem chegue com alegria, quem chegue esgotado, quem venha por obrigação ou apenas cumpra calendário. Há quem se emocione com um detalhe, quem se irrite com o ruído, quem se refugie em tarefas para não pensar. E, mesmo entre tantas emoções misturadas, continua a existir um desejo silencioso de encontrar o verdadeiro sentido da época. O Natal toca precisamente aí: no ponto onde a vida pede menos ruído e mais verdade, onde o ser humano reconhece que precisa de significado.


E acontece algo curioso: mesmo quando tudo à volta parece ruído, há sempre um instante em que algo dentro de nós abranda. Uma luz, um cheiro, uma memória, um gesto simples. É quase inato. Quando tudo acelera demais, algo dentro pede pausa. Quando tudo se complica, desejamos simplicidade. Quando tudo nos cansa, procuramos sentido. Quando tudo nos dispersa, queremos voltar a casa, não só à casa física, mas ao centro de nós.


Foi assim desde o início. A natividade aconteceu numa gruta pobre, no meio de incertezas, sem nada preparado, sem decorações, sem lista de convidados. Nada perfeito, tudo verdadeiro. E foi ali, naquele lugar discreto, que nasceu a Luz do Mundo. É isso que o Natal nos recorda: a Luz nasce sempre, o essencial nasce sempre na simplicidade.


As nossas relações também se alimentam disso. Não precisam de grandes gestos; precisam de presença. De ouvir com calma, de preparar algo juntos, de dar descanso a quem chega cansado. A família, seja grande ou pequena, fortalece-se nos gestos que dizem “estou aqui”, e esse “estou aqui” é, muitas vezes, outra forma de dizer “eu amo-te”.


E o Natal é para todos. Basta uma memória boa, uma luz acesa, um gesto de caridade para recordar que cada vida tem valor e que nenhum dia é irrelevante. Mesmo no silêncio, o Natal encontra caminho.


No fim, o que esta época realmente nos lembra é simples: a Luz nasceu numa gruta para mostrar que nenhum caminho é pequeno demais para ser iluminado. Quando deixamos essa Luz tocar a vida, percebemos que ela nos liga uns aos outros, que sustém, que acompanha.


O Natal não nos pede grandes coisas. Não quer perfeição, nem casas impecáveis, nem mesas cheias. Pede-nos apenas presença. Pede que olhemos com mais calma. Que reparemos no outro. Que reparemos em nós. Que voltemos ao que importa.

Por isso, que este Natal nos ajude a recuperar a simplicidade que faz bem ao coração. Que encontremos tempo para parar, agradecer, abraçar, escutar. Que reconheçamos a Luz que nasce nos lugares mais discretos e mais verdadeiros.


Porque, no fundo, o Natal é isto mesmo: um reencontro com o que é simples, com quem amamos e com Aquele que, silenciosamente, caminha sempre connosco.Que este Natal nos devolva a certeza tão necessária: não caminhamos sós. Nunca caminhámos.

Que se cumpra o Natal. Santo e feliz Natal.


“É Natal sempre que deixares Deus amar os outros através de ti… sim, é Natal sempre que sorrires ao teu irmão e lhe ofereceres a tua mão.”Madre Teresa de Calcutá


Brígida Ribeiro

Psicóloga Clínica

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