Quando se perde alguém próximo de nós, o nosso interior sente-se abalado e desorientado, pois mexe com o que temos como certo e a ideia de eternidade. Ninguém vive a pensar como será a sua vida se alguém que ama morrer, nem pensamos que isso poderá acontecer mais cedo do que aos 100 anos e, portanto, construímos a nossa vida com base nos nossos sonhos, anseios, projetos. Com a morte de um ente querido tudo isto desmorona e esses sonhos, projetos são abruptamente interrompidos. Isto faz emergir uma série de sentimentos e emoções que acompanham o processo de luto.
O luto é um processo normal de adaptação a uma nova realidade, que envolve sofrimento e alguma desorganização psíquica. Neste processo, a pessoa vai curando a ferida que ficou, retoma o seu equilíbrio interior e reestabelece-se psíquica, emocional e espiritualmente, no fim, encontra, novamente, o sentido da vida.
O luto é, deste modo, uma recuperação psicológica em que a pessoa necessita experienciar os sentimentos e emoções que vão surgindo para as sentir, viver, partilhar e falar delas. Desta forma, a pessoa consegue realizar um bom processo de luto.
De acordo com a psiquiatra suíça Elisabeth Küber-Ross, o processo de luto engloba cinco fases, sendo que nem todas as pessoas passam, obrigatoriamente, por elas, mas pelo menos duas fases todos vivem:
Negação: a pessoa recusa aceitar a realidade da morte de um ente querido, fica em choque com a notícia e, por vezes, recusa falar do assunto. Caso a pessoa mantenha esta recusa pode levar à perda do equilíbrio psíquico.
Raiva: a pessoa culpa os outros e sente-se injustiçada. Revolta-se contra alguém que considera responsável, sejam os médicos ou mesmo Deus.
Negociação: a pessoa quer que a morte seja superada e tenta acordos, pactos ou mesmo promessas, por vezes em segredo.
Depressão: a pessoa isola-se e sente-se impotente perante a situação, vive os sentimentos de tristeza, abandono, solidão, vazio e deixa que as emoções surjam.
Aceitação: a pessoa aceita a realidade e, desta forma, as emoções ficam controladas, supera o processo de luto e consegue seguir com a sua vida.
No caso de crianças que perdem os seus pais, podemos observar três fases muito concretas: primeiro o protesto em que criança sente grande desejo de estar com o progenitor falecido; depois o desespero onde domina a falta de esperança, retraimento; e a fase do distanciamento em que a criança abandona o apego emocional com a pessoa que faleceu e transfere a falta desse pai para um ou mais adultos de referência.
Claro, que cada pessoa vive de uma maneira muito própria o seu processo de luto. O importante é não ficar preso aos sentimentos de vazio, abandono, não se deixar dominar pelas emoções, mas saber geri-las, aceitar a realidade e olhar em frente. A parte espiritual tem de ser cuidada, para que a Fé não seja abalada por sentimentos de injustiça. Deus não nos traz a morte, pelo contrário dá-nos a vida e cuida de nós como um Pai. Portanto, não nos podemos afastar dEle, mas procura-Lo cada vez mais para voltarmos a ter um sentido para a nossa vida e redescobrir o nosso caminho.
Marta Faustino
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