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Iludidos pela felicidade ou desiludidos por ela?

Vivemos tempos em que a felicidade se tornou quase uma obrigação, como se todos tivéssemos de estar sempre bem, sempre sorridentes, sempre realizados.




À nossa volta, muitos aparentam viver vidas felizes. Há quem garanta ter descoberto a fórmula mágica, um estilo de vida, um produto, uma rotina, como se a nossa felicidade dependesse disso.


Com as redes sociais, os influencers e o marketing a invadirem o nosso dia a dia, somos constantemente bombardeados por mensagens que nos dizem como devemos ser, o que devemos querer, o que precisamos para sermos felizes. Muitas vezes sem nos darmos conta, deixamo-nos distrair... ou desejamos coisas que nunca teríamos pensado por nós mesmos.


Mas, afinal, o que é a felicidade?


Será um estado contínuo de prazer e bem-estar? Ou será algo mais profundo que se constrói, e talvez até se revele com mais verdade, nos momentos difíceis?


Segundo o psiquiatra espanhol Enrique Rojas, "a felicidade consiste em ter uma personalidade harmoniosa e madura, em saber o que se quer da vida e lutar por isso com esperança".

Um dos grandes equívocos contemporâneos é confundir felicidade com euforia, entusiasmo passageiro provocado por estímulos externos. A euforia esgota-se. A felicidade permanece, silenciosa, como um estado de coerência entre aquilo que vivemos e aquilo em que acreditamos.


Enrique Rojas escreve: "Não é feliz quem ri muito, mas quem está em paz consigo próprio." Esta paz não depende de ter uma vida perfeita, mas de saber dar sentido ao que se vive. Viktor Frankl observou isso mesmo nos campos de concentração: aqueles que encontravam um “para quê” para continuar, resistiam. A felicidade, então, pode ser fruto de uma vida com propósito, mesmo no meio da dor.


Ainda assim, todos desejamos ser felizes. Mas o modo como procuramos a felicidade pode levar-nos à frustração. Quando a procuramos no prazer imediato, no consumo, na validação externa, tornamo-nos escravos de estímulos fugazes. Como consequência, acabamos desiludidos pela felicidade — porque ela não cumpre o que prometem os anúncios, os filmes ou as redes sociais.


Viktor Frankl propõe uma mudança radical: o ser humano não está à procura da felicidade, mas do sentido. A felicidade surge como consequência. Ou seja, quem vive à procura da felicidade pode nunca encontrá-la. Mas quem vive com sentido, muitas vezes, descobre que é feliz.


A felicidade, entendida de forma profunda, não é um estado, mas um modo de viver. Está nas pequenas decisões diárias, na forma como enfrentamos desafios, nos valores que orientam a nossa existência.


O ser humano é um ser de decisão. Podemos sempre escolher a nossa atitude perante a vida. Mesmo quando não conseguimos mudar as circunstâncias, podemos escolher como reagimos a elas.


Felicidade não é ausência de dor. É presença de sentido. É saber para que vivemos, quem queremos ser, o que desejamos construir com os outros. Não é estar sempre a sorrir, é sentir que a vida vale a pena, mesmo nos dias difíceis.


Por isso, talvez não estejamos desiludidos pela felicidade. Talvez estejamos apenas iludidos com o que achávamos que ela seria.


Brígida Ribeiro

Psicóloga Clinica

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