O sofrimento faz parte da vida! Quem nunca sofreu? Todos nós passamos por sofrimentos mais ou menos intensos, mais ou menos prolongados, mas passamos.
Viktor Frankl, com a Logoterapia e a Análise Existencial, vem mostrar-nos que, na vida, somos confrontados com uma tríade trágica. Esta tríade é composta por três elementos que são inerentes à nossa vida, são eles, a culpa, o sofrimento e a morte. Não dá para negar estes elementos, arrancá-los da nossa vida ou ignorá-los.
A culpa surge de uma situação onde eu causei dor a alguém e fico arrependida de o ter feito; o sofrimento aparece de diversas formas, pode ser um acidente, uma doença, uma palavra dolorosa, uma separação, uma injustiça, uma morte, entre outras situações; e a morte é o que temos de mais certo, pois todos nós um dia iremos morrer, não temos como escapar a isso.
Esta tríade trágica causa-nos sofrimento e pode, mesmo, paralisar a nossa vida. diante de um sentimento de culpa, posso ficar de tal forma focada na situação, no remorso, que me prendo ao passado e bloqueio a minha vida! A culpa pode ser tão dolorosa, ao ponto, de me consumir, desgastar e adoecer, ou cometer um suicídio. O sofrimento pode, igualmente, chegar a um tal ponto que não me permite ver o amanhã, ter esperança, ver de outra perspetiva a situação. O sofrimento pode bloquear a minha visão e fazer-me prisioneiro de um poço escuro, frio, húmido. E a morte causa ansiedade, medo, porque não sei o que virá, o desconhecido assusta-nos e podemos viver aterrorizados pela morte.
Então, Frankl vem mostrar-nos uma visão logoterapêutica desta tríade e dizer que para esta tríade nós temos de utilizar os valores de atitude, como disse Frankl: “Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos!”. Portanto, as situações imprevistas surgem, os sofrimentos aparecem, as pessoas difíceis de lidar, também, mas nós temos sempre uma forma de sair da situação: mudar a nós mesmos! Isto é, temos sempre a possibilidade de nos posicionarmos, de tomar uma atitude! Não é fácil, nem sempre vamos conseguir sozinhos ver isto, podemos necessitar de uma ajuda, mas podemos pensar de forma diferente a situação, ver outro lado que não estava a ver, tirar partido da nova situação. Mas para isto necessitamos de ser flexíveis, não dá para viver numa rigidez, numa rotina rígida, numa forma única de pensar e ver o mundo. Não! Precisamos de abrir-nos a formas diferentes de pensar, de ver e de sentir. Os valores de atitude vão dizer-nos que, em última instância, eu posso, sempre, tomar uma atitude, agarrar a vida nas minhas mãos e fazer a mudança!
Da mesma forma, podemos utilizar a nossa sensibilidade, criatividade para apreciar momentos agradáveis e tirar partido da natureza, da música, de uma boa comida, quando já não conseguimos fazer mais nada. O sofrimento não pode ser visto como um limite, uma barreira que me impede de viver, mas deve ser encarado como um impulso para outra situação, uma fronteira, onde termina algo mas começa outra situação, diferente? Sim! Mas não, necessariamente má.
O sofrimento precisa ser encarado como oportunidade de crescimento, de vida e não como um bloqueio.
Que resposta diferente pode dar hoje? O que a vida lhe está a pedir?
Marta Faustino
Psicóloga Clinica
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