O sentimento de culpa esmaga-nos com uma força, que se torna difícil olhar em frente. A culpa é um grande inimigo porque nos faz sentir péssimos, tristes, abatidos. No entanto, precisamos aproveitar esse sentimento para uma revisão das nossas atitudes, ver a culpa como impulsionadora de mudanças, que nos faz reflectir nas nossas atitudes e querer mudar. Nós não somos perfeitos, somos humanos, estamos sempre em processo de aprendizagem.
O ser humano gosta de ser bem visto, elogiado, amado, desejado. Quando sabemos que alguém nos tem em grande conta ou nos admira por determinada característica da nossa personalidade, ficamos orgulhosos de nós, cheios de sentimento de segurança, de poder. Sobretudo nós, mães, quando temos alguma postura, comportamento com os nossos filhos e alguém repara e nos parabeniza, nós enchemos o peito e sentimo-nos as maiores. Como sabe bem ouvir "Dás-te tão bem com a tua filha!", "Há! Que grandes amigas!", "Ai, ele obedece-te tão bem!"... palavras mágicas que são "música para os nossos ouvidos".
Contudo, em casa, só nós sabemos das nossas inseguranças, receios, incertezas. Imaginemos a seguinte cena que se pode passar em qualquer casa, neste exato momento:
"Lá, onde ninguém vê os cabelos em pé, as noites mal dormidas, o trabalho a fazer em casa (depois de um dia de trabalho), a paciência a esgotar-se, o nervosismo com um projeto a apresentar, a revolta com as palavras injustas que ouvi numa reunião, e o filho abrir as portas todas da cozinha e tirar tudo para fora ou a filha a gritar que não está a conseguir vestir a boneca, ou o filho que não quer fazer os trabalhos de casa e a filha não quer ir tomar banho e ... a paciência esgotou-se, o filtro da boa mãe acabou-se e surge aquela que ninguém vê, nem sonha que está dentro de nós: (a gritar) "Chega! Quantas vezes já te avisei! Eu mando e tu obedeces, sou tua mãe! De castigo, acabou!" Ufa! Pronto foi, já explodi, não há nada a fazer. Agora aqueles olhinhos dele voltam-se para nós marejados de lágrimas, desorientado, sem perceber o que fez de (tão) errado e lança aquele olhar de menino bem-comportado, bonzinho que só apetece agarrar, dar beijinhos e apagar a triste figura que acabamos de ter.»
Aqui está a culpa. Ai que sentimento tão feio. A culpa faz-nos parecer horríveis, as piores pessoas à face da terra. Ficamos com sentimentos de inutilidade, insegurança, até desespero. E, nós mães, temos disto quase diariamente, porque lidamos com a educação dos nossos filhos e isso é uma grande responsabilidade. Quantas vezes temos uma atitude e questionamos se será a mais correta. "Lá estás tu a mexer onde não deves!", "Porque não me ouves à primeira!", "Mas será que falo chinês?!", "Vais ficar de castigo!", "Hoje não vais ter história!", "Amanhã não vais a casa do teu amigo!", entre tantas decisões que tomamos e depois ficamos a questionar: Será o melhor?!
Respostas certas não existem. A culpa faz-nos perceber que nos excedemos ou que precisámos tomar uma decisão mais rígida devido ao comportamento limite dos nossos filhos. Caso tenhamos exagerado, então também precisamos ter a humildade de pedir desculpa aos nossos filhos. Contudo, pode ser que a nossa ação tenha sido a medida certa para o filho perceber que somos pais e sabemos o que é melhor para eles. Às vezes é com o coração a chorar que precisamos ser firmes com os nossos filhos, pois educar não é só ser bom amigo, rir às gargalhas, mas colocar limites, orientar os passos para o melhor caminho.
Marta Faustino
Comments