“Para me sentir viva preciso de vibrar com algo, sentir que algo mexe dentro de mim, que me agita, que me faz ansiar, desejar e querer mais. Gosto de sentir essa ânsia no ventre, como se algo bom está para vir e fico ansiosa por essa realização.” Estas são palavras de uma mulher que vive a sua vida pela superficialidade do prazer. Uma mulher que vive a vida de forma apaixonada, vibrante, empenha-se e dá tudo de si num relacionamento amoroso, num desafio que a vida lhe propõe e gosta de viver no limite, isto é, com a adrenalina que as coisas do dia a dia lhe vão fazendo sentir. Contudo, tudo o que é constante, que perdura no tempo, que é necessário esforço, sacrifício, renúncias, ela não sabe lidar.
Estamos a falar de alguém que vive do presente, do prazer, do desejo, portanto que vive a vida com ligeireza, na exterioridade, na futilidade. Este alguém não conhece a verdadeira alegria de apreciar uma tarefa bem feita, nem de contemplar o amanhã.
A nossa vida é feita de passado, presente e futuro. Quem vive só no passado, preso aos acontecimentos que já ocorreram e às suas memórias é alguém que deprime e não vive a sua vida, pois o passado já passou, não dá para o alterar e a vida continua à espera de uma resposta e reação da minha parte. Quem vive só no futuro, na expetativa de algo que vai acontecer, da mesma forma, não vive a sua vida e acaba por sofrer de ansiedade, pois teme o que ainda não aconteceu. Deste modo, o nosso equilíbrio, a nossa sanidade mental, está em saber viver bem o presente, tendo em conta o nosso passado, vislumbrando o futuro.
Preciso olhar o meu passado e recordar a minha história, traumas, virtudes, erros, quedas e superações, para aprender com o que já vivi e não cair nos mesmos erros, mas de igual forma, acreditar que serei melhor pessoa hoje, do que fui ontem. Entretanto, vivo o presente com esse olhar de aceitação da minha identidade, da minha história e aprendizagem com todas as recordações que tenho.
Quando contemplo o futuro, eu sonho com o que gostaria de realizar, vivo na esperança de dias melhores e almejo a felicidade. Vivo, assim, o hoje e desfruto dos momentos que tenho, sempre com a esperança das alegrias que, ainda, irei viver.
Como Enrique Rojas diz no seu livro “As linguagens do desejo”: “Na alegria, vibram os três êxtases do tempo: passado, presente e futuro. É o gozo pela tarefa bem feita (passado), a vivência de algo momentâneo que se manifesta (presente) e a esperança de alcançar pequenas metas (futuro)”.
Portanto, podemos afirmar que a alegria é o fruto da contemplação desses momentos passados, ou que ainda iremos viver, e da posse do que vivemos hoje. Já o prazer é mais superficial, é o desfrutar do que faço no momento, mas no instante seguinte já desapareceu. Quem vive do prazer, baseia-se no aqui e agora e, entretanto, já deprime ou terá de procurar algo que substitua o prazer que passou. Exemplo, eu como um pastel de nata e sinto prazer ao saboreá-lo, mas assim que terminei, o prazer desaparece. Assim, também funciona nos relacionamentos amorosos, quem vive pelo prazer que o outro lhe dá, simplesmente, anseia a posse do outro, que é fugaz, isso não é amor.
A alegria é mais estável, como vimos anteriormente, mas mesmo assim ela pertence ao momento presente. Já a felicidade é mais profunda e permanente, não um objetivo a alcançar, uma meta a desejar, mas uma consequência do que vivi, um olhar para mim mesmo, para a minha vida e sentir-me satisfeito, feliz com o que consegui, o que alcancei, o que vivi, o que superei. Como diz Enrique Rojas: “A felicidade é uma vida conseguida positivamente, que sabe assumir as derrotas, dar-lhes a volta e convertê-las em experiências enriquecedoras.”
Marta Faustino
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