Ser grande sem deixar de ser pequeno
- Marta Faustino
- 23 de jun.
- 2 min de leitura
Há algo nas crianças que nos desarma. Talvez seja o riso fácil. Ou a capacidade de se maravilharem com o que nós já não vemos. Talvez seja a forma como vivem sem máscaras, com uma liberdade que não precisa de provar nada. Nelas, tudo parece mais simples, e ao mesmo tempo, mais verdadeiro.

Enquanto adultos, corremos o risco de nos afastar desta essência. Trocam-se os gestos espontâneos por automatismos, a humildade por defesas, a simplicidade por excesso, a alegria por urgência. Vamos deixando pelo caminho a leveza com que víamos o mundo. Perdemos o espanto. Perdemos o encanto. Perdemos o essencial.
Mas não perdemos para sempre. As virtudes da infância não se apagam: adormecem. E é possível voltar a elas. Não para regredir, mas para amadurecer. Ser adulto é reaprender a viver como as crianças vivem: com autenticidade, humildade, presença e alegria.
SimplicidadeAs crianças não precisam de muito para serem felizes. Uma caixa vira casa. Um olhar vira abraço. Um “anda brincar” vale mais que mil distrações. Nós complicamos, queremos controlar tudo. Mas viver bem é, muitas vezes, saber parar, ouvir, saborear o que já está. A simplicidade devolve-nos à vida real, onde as coisas pequenas têm valor.
HumildadeElas não fingem saber o que não sabem. Perguntam. Experimentam. Caem. Tentam outra vez. E pedem ajuda sem vergonha. A humildade infantil não é fraqueza: é liberdade. Quando reaprendemos a ser humildes, ganhamos espaço para crescer, relacionar-nos com mais verdade e aceitar os nossos limites com serenidade.
AutenticidadeA criança não finge estar bem quando não está. Não ri por conveniência. É inteira no que sente. Com o tempo, aprendemos a esconder, a ajustar, a agradar. Mas a autenticidade cura. Quando voltamos a ser verdadeiros, aproximamo-nos dos outros e de nós mesmos com uma presença mais plena.
AlegriaÉ uma alegria que não depende do “ter tudo resolvido”. As crianças alegram-se porque vivem. Porque descobrem. Porque são. Essa alegria é profunda, porque é gratuita. Nós, adultos, podemos reaprender esta alegria: nas relações, na gratidão, no sentido das pequenas coisas.
E se parássemos um pouco, e perguntássemos:
Que virtudes da infância eu perdi pelo caminho?
O que complico, onde poderia simplificar?
Onde posso voltar a espantar-me, a rir, a ser mais eu?
Pequeno desafio para este mês:
Escolhe uma dessas virtudes - simplicidade, humildade, autenticidade ou alegria - e vive-a de forma concreta. Diz o que sentes com verdade. Faz algo simples que te dê prazer. Pede ajuda. Ri com o corpo todo. Faz uma escolha que te torne mais leve e mais inteiro.
Reaprender a viver como as crianças não é um exercício de nostalgia, mas de lucidez. Elas são, tantas vezes, o espelho mais limpo daquilo que nos esquecemos de ser. Talvez o verdadeiro crescimento passe por isto: tornar-nos adultos com alma de criança e viver com sentido, leveza e coragem de sermos quem somos.
Brígida Ribeiro
Clinica de Psicologia
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