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Foto do escritorMarta Faustino

Identidade: o que fui, sou e o que ainda quero ser



Na semana passada, vimos os primeiros quatro estádios da construção da identidade, segundo Erikson[1] e refletimos algumas questões da nossa história pessoal.

Hoje falaremos dos restantes quatro estádios.


V Estádio (dos 12 aos 20 anos) – Identidade vs Difusão ou confusão de papeis: a questão chave desta fase é responder à pergunta Quem sou eu?”. Esta é a pergunta que surge quando o jovem começa a tomar mais consciência de si, enquanto pessoa única, singular, diferente dos demais e, em simultâneo, a perceber o que tem para contribuir em sociedade, isto é, “o que serei no futuro, que papel irei desempenhar?”. O jovem vive uma tensão interior, positiva, entre o que é e o que deseja ser.


No que toca ao desenvolvimento social e afetivo, o jovem tende a procurar a sua independência e autonomia perante os pais. A construção da identidade pessoal engloba a integração coerente de aspetos intelectuais, sociais, sexuais e morais. Esta integração necessita exprimir um sentimento de continuidade e de identidade, o que causa conflitos internos, visto o jovem não ter, ainda, certezas de nada, e o que hoje pensa que é, amanhã já não será. A crise de identidade reflete a dificuldade em saber quem é, com as suas potencialidades, sonhos, capacidades e onde se pode inserir na sociedade, denotando o grande conflito da transição da infância para a idade adulta. Esta resolução acontece quando o adolescente é apoiado e encorajado para procurar respostas por si mesmo. A virtude adquirida nesta fase é a fidelidade, onde o adolescente aceita, responsavelmente, compromissos e não se deixa levar pelo que os outros decidem. Portanto, é fiel a si mesmo, às suas escolhas, decisões


VI Estádio (dos 20 aos 30 anos) – Intimidade vs Isolamento: a marca desta fase é a preocupação em estabelecer relações íntimas duráveis com outras pessoas, isto é, “deverei partilhar a minha vida com outra pessoa ou deverei viver sozinho?”. Erikson refere intimidade como a capacidade de a pessoa desenvolver uma relação profunda e significativa com outra pessoa. Para que isto aconteça, a pessoa precisa ter resolvido as crises psicossociais anteriores e ter um sentimento de segurança sobre si mesmo e do que quer na vida.


Erikson refere que a incapacidade de entrega e fidelidade a uma relação, pode levar ao isolamento, à solidão e à sensação de que falta algo para ser completo, embora ficar sozinho não seja sinal de fracasso afetivo. A grande virtude desta fase é o amor. O jovem adulto, nesta fase, é capaz de transformar o amor, recebido no passado, em devoção e entrega, portanto, a intimidade implica a capacidade de amar, doando-se ao outro (sendo capaz de amar com sacrifícios, renúncias e fidelidade). A virtude desta fase é, sem dúvida, o amor, uma devoção mútua e madura.


VII Estádio (dos 30 aos 60 anos) – Generatividade vs Estagnação: a questão chave aqui é “serei bem-sucedido afetivamente e profissionalmente?”, ou “produzirei algo com verdadeiro valor?”, ou ainda “conseguirei contribuir para melhorar a vida dos outros?”. A generatividade consiste em gerar algo, portanto ser criativo e produtivo, em diversas áreas da vida, não só na criação e educação dos filhos, mas, da mesma forma, no bem-estar das gerações futuras, ampliando a preocupação para a vida, num mundo melhor. A generatividade reflete-se na produção de ideias, no desempenho da profissão, no cuidado dos outros, portanto, na expansão do ego, que se descentraliza de si mesmo. Caso esta expansão do ego não aconteça, a pessoa fica estagnada, preocupando-se, apenas, consigo mesma, com a posse de bens materiais, vivendo, portanto, no seu mundo egoísta. A virtude adquirida nesta fase é o cuidado, a preocupação com o outro, a doação de vida.


VIII Estádio (a partir dos 60 anos) – Integridade vs Desespero: nesta fase final de vida a questão fulcral prende-se com o sentido da vida “será que a minha vida teve sentido ou falhei?”. É a fase do balanço, da avaliação do que foi e fez na vida. Desta forma, a integridade significa que a pessoa avalia positivamente o seu percurso vital, embora não tenha conseguido conquistar todos os seus sonhos, e esta avaliação positiva prepara-o para aceitar a inevitável deterioração física e a morte que se aproxima, pois sente que a sua vida teve sentido. As pessoas que, pelo contrário, centradas em si mesmas, avaliam negativamente a sua vida (foram mal sucedidas, escolheram erradamente, pouco produtivas) sentem que é tarde para se reconciliarem, com elas mesmas, e corrigir os erros cometidos, desta forma, podem ceder à angústia e desespero. A virtude a desenvolver neste estádio é a sabedoria, a consciência de que, mesmo com os nossos limites, vivemos da melhor forma, a nossa vida foi plena de sentido.


Em que estádio se encontra hoje? Como foi a fase de juventude? Percebeu-se como pessoa única e singular que é? Descobriu a sua identidade, o seu específico? Foi fiel às suas convicções? Ou deixou-se levar pelas opiniões alheias e não realizou o que brotava no seu coração? E, enquanto, adulto? Descobriu a chave do amor? Superou o seu passado e soube amar de forma livre, entregando-se a uma pessoa, sendo fiel a ela e ao vosso amor? Ou sentiu-se demasiado frágil, inseguro e sem certezas e deixou escapar o amor? E profissionalmente, foi/é produtivo no seu trabalho? Sente que realiza algo, que cria algo de novo, de único, que o que faz tem valor na vida de outros? Ou sente-se frustrado com o seu trabalho? Sente que perde tempo onde está? Reconhece que poderia fazer muito mais e melhor? Gostaria de fazer mais pelos outros que o rodeiam?


Após esta reflexão, anote os pontos essenciais que precisa trabalhar em si e os pontos que ainda quer/pode realizar. Sim, seja qual for a sua idade, ainda pode sonhar e ser produtivo, fazer a diferença na vida de alguém, ou mesmo na sua!

[1] [1] Erikson, E. (1976). Infância e Sociedade, (tradução brasileira). Rio de Janeiro: Zahar Editores.


Marta Faustino

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