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O que fazer depois de um trauma

Ninguém espera que uma criança viva algo inesperado, mas não podemos controlar o mundo à nossa volta e caso aconteça, ou a criança sinta que a sua integridade ou segurança está ameaçada (ainda que não seja real), podemos sempre ajudar a criança a superar a situação ou diminuir o seu impacto negativo. É sobre isto que falaremos de seguida.


As investigações são claras, em alguns pontos a ter em conta, sempre que algum trauma surge, são eles: criar um ambiente de segurança; manutenção de rotinas; rede de suporte; ensinar técnicas de autocontrolo; desenvolver os seus pontos fortes.


1. Criar ambiente de segurança: a criança precisa sentir que está segura, física e emocionalmente, no seu espaço, casa e escola, portanto é importante criar essa segurança e explicar à criança, que ninguém pode entrar, ou ir buscar, na escola ninguém a magoa e dizer quem está responsável por ela lá. Explicar os horários que a vai buscar, levar, onde vai estar a mãe/pai enquanto ela está na escola, talvez deixar um bilhete com ela com o número dos pais, ou algum objeto de segurança.


2. Manutenção de rotinas: as rotinas são estruturantes em qualquer fase, até para os adultos, daí a importância de, em qualquer situação imprevista, tentar ao máximo manter as rotinas da criança. É normal que, num primeiro momento, isto seja muito difícil, ou até impossível, pela questão de mudança de casa, perda dos pais, etc., contudo há sempre algo que se pode manter, os horários de acordar, comer, tomar banho, deitar, voltar à escola, também, vai ajudar a retomar à rotina e tudo isto vai dando um sentimento de segurança à criança.


3. Rede de suporte: a criança precisa ter alguns adultos, para além dos pais, em quem confia e sente que é amada, acarinhada, transmitem segurança, brincam, incentivam-na, demonstram o quanto a criança é importante e especial. Esta rede de suporte é importante para a criança se sentir segura fisicamente e ir fortalecendo o seu interior.


4. Ensinar técnicas de autocontrolo: é normal as crianças traumatizadas viverem com medo e isso pode repercutir-se em comportamentos de isolamento, afastamento de todos, grandes silêncios, apatia ou choro, ou com comportamentos mais agressivos, irritabilidade, raiva, gritos, estragar objetos, entre outros. Neste sentido, é importante trabalhar a gestão emocional, ajudar a criança a dar nome às suas emoções e sentimentos e aprender a geri-los, com técnicas de autocontrolo, como contar até 10, respirar fundo, ter algum objeto calmante, ou algum código combinado com os pais. Qualquer coisa que vá dando à criança a sensação de controlo de si mesma.


5. Desenvolver os seus pontos fortes: os adultos precisam estar atentos aos avanços, superações, conquistas, ainda que muito pequenas e possam parecer insignificantes, mas neste momento, devem ser bem notas e muito valorizadas, para que aos poucos a criança vá construindo uma imagem de si positiva, forte e se sinta mais no controlo da sua vida. Portanto, reforçar bons comportamentos e elogiar os seus feitos. Caso surjam comportamentos desajustados, será sempre importante passar por uma avaliação profissional.


Os médicos e psicólogos têm falado e investigado as questões da psicologia positiva, parentalidade positiva, para que se tente, logo na infância, criar o ambiente propício a um bom desenvolvimento, que conduza a criança até à sua adultez de forma mais harmoniosa e com menos impactos negativos. Um estudo recente[1] demonstrou que as experiências positivas na infância podem ter repercussões para toda a vida, na saúde mental e relacionamento social, muito embora tenham existido adversidades, como as experiências traumáticas na infância. Isto demonstra que precisamos diminuir as adversidades, mas não precisamos ficar demasiado obcecados com os cuidados e as proteções à criança, impedindo-a de viver, pois parece que existe algo que é necessário ensinar, a resiliência.


A Dra. Heather[2] refere que os pais precisam manter relacionamentos acolhedores e isto sim, tem uma enorme repercussão na capacidade de resiliência das crianças. Os pais não podem superproteger os seus filhos, mas podem ensinar-lhe a confiarem neles, terem a certeza de que são amados, estão seguros com os pais, a confiarem nas suas capacidades e lutas, demonstrando afeto e falando de emoções, criando vínculos emocionais fortes com eles. Isto gera neles algumas competências e capacidades importantes para superarem as adversidades, como a esperança, a autonomia, saber esperar, gerir as suas emoções e saber resolver problemas.

[1] Bethell, C., Jones, J. et al. (2019). Positive Childhood Experiences and Adult Mental and Relational Health in a Statewide Sample. In Jama Pediatric. [2] palestra na AAP 2019 National Conference, nos EUA.


Marta Faustino

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