Temos vindo aprofundar o nosso conhecimento na teologia do corpo[1] (TOB[2]) do nosso saudoso Papa João Paulo II e já descobrimos que o corpo humano foi criado com o objetivo de “transferir para a realidade visível do mundo, o mistério escondido na eternidade em Deus; para ser um sinal disso.”, tal como refere Christopher West no seu livro Teologia do Corpo para principiantes. Neste sentido, o corpo não é só composto pela sua parte física, biológica, mas ele é espiritual. Vimos, da mesma forma, que a Igreja ensina que o corpo é bom, santo e é templo do próprio Deus e, portanto, uma grande novidade dos nossos tempos é ver que a Igreja não ensina que o corpo é mau ou a relação sexual é pecaminosa. Na verdade, isso é, até, uma heresia.
O corpo humano tem uma dimensão sacramental que torna visível esse mistério da Santíssima Trindade e é isso que vamos abordar neste artigo.
Quando homem e mulher se unem no sacramento do matrimónio eles cooperam com a criação. A sua união sexual é um sacramento, os seus instintos sexuais impelem-no a amar e ser amado, tal como o movimento da Santíssima Trindade, onde se observa o Amor do Pai pelo Filho, do Filho pelo Pai, numa unidade íntima de amor, concretizada pelo Espírito Santo. Esta é a vocação original do ser humano: amar e ser amado.
A complementaridade dos sexos que está impressa nos nossos corpos é o que nos ensina a amar como Ele ama. Aqui está o significado esponsal da nossa existência.
Na TOB isto é mencionado quando Jesus fala do divórcio aos fariseus “Nunca leram nas Escrituras que, no princípio, Deus os criou homem e mulher? Por essa razão está escrito que o homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher, e os dois se tornarão como uma só pessoa. Assim já não são dois, mas um só. Portanto, não queira o homem separar aquilo que Deus uniu.” (Mt 19, 4-6). Aqui vemos como a união esponsal é desejada e querida por Deus, é o sacramento primordial e que nos aponta para a união esponsal de Cristo com a Igreja.
Como é importante, bela e tão divina esta união esponsal, onde o homem coopera com Deus na criação de novas vidas. Quando percebemos e damos a importância que necessita ser dada ao matrimónio, ele deixa de ser para nós, somente uma fonte de prazer e de me tornar feliz, logo o divórcio, também deixa de fazer sentido, assim como qualquer barreira que nos impeça de conceber uma nova vida, tão amada e desejada por Deus. Contudo, exatamente, por tudo isto, o matrimónio é tão violentamente profanado, banalizado, erotizado e desvirtuado do seu sentido primeiro e último.
“Eu te recebo por minha esposa (meu esposo) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.” É este o compromisso matrimonial que os esposos declaram no dia do seu matrimónio. Ainda se comprometem a aceitar todos os filhos que Deus lhes quiser enviar. Esses votos são percetíveis na TOB, quando S. João Paulo II menciona que o amor precisa ser livre, total, fiel e fecundo.
No matrimónio os esposos doam o seu corpo um ao outro numa doação livre, total, fiel e fecunda. O ato sexual é prazeroso, é bom, mas o seu fim último não é o prazer, mas sim a doação de si ao outro. Essa doação ela precisa ser livre, caso contrário já não é amor, mas posse, domínio do outro; é necessário que seja total, não posso só dar uma parte de mim, mas a totalidade do meu ser, e aqui vemos o amor também na doença, na pobreza, na tristeza, pois eu amo, independentemente, do que o outro me dá, me faz. Amo porque me dou a ele e quero caminhar para a eternidade junto com ele; a fidelidade não pode ser colocada em causa, Jesus refere, no sermão da montanha, “Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela no seu coração” (Mt5,28), Jesus desafia-nos a olhar de uma maneira pura para o outro, quer levar-nos à conversão de coração que passa pelo domínio das minhas paixões. A fidelidade está ligada, portanto, ao autodomínio e Jesus veio para nos libertar da concupiscência, para sermos livres para amar; a fecundidade tem a ver com a nossa cooperação na criação, por isso o ato sexual no leito conjugal necessita estar sempre aberto à vida, sem qualquer tipo de barreira, para que Deus possa continuar a sua criação. Mas a fecundidade do casal não se mede pelo número de filhos. Os casais inférteis não deixam de ser fecundos, pois a fecundidade passa pela sua missão e está, intimamente, ligada à vivência da espiritualidade.
Que bela novidade S. João Paulo II nos traz da vivência do matrimónio. Como está o seu matrimónio nestes pontos? O que precisa ser melhor compreendido ou modificado?
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