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Desenvolvimento psicoafetivo (Parte 1)



A identidade é um tema que nos interessa e toca, pois é sobre o nosso funcionamento, a nossa origem e questionar o porquê de sermos assim, indagar as nossas reações, limites, temperamentos. Irei abordar, ao longo deste mês, o desenvolvimento psicoafectivo, com base nas teorias psicanalistas; a construção da identidade segundo Erikson; e, por fim, alguns casos onde vemos estas ligações. Este artigo, pela sua extensão será dividido em dois, portanto, na próxima semana, teremos a segunda parte.

De acordo com as teorias psicanalíticas podemos observar quatro estádios de desenvolvimento:


1.Estádio Oral (0 – 12 meses): a fonte da pulsão é a boca e o objeto o seio materno, portanto, é através da amamentação que o bebé satisfaz a sua necessidade fisiológica de ser alimentado. Nos primeiros meses o bebé nem distingue o que é o seu corpo e o que é da mãe, a noção que tem é que são um só. Com a experiência da frustração (querer leitinho e não ter logo) é que vai aprender a reconhecer-se distinto da mãe.

Por volta do 6º mês, de acordo com Bowlby, dá-se a vinculação, o bebé sente uma ligação segura, ou insegura, com a mãe (ou figura de referência). Para que aconteça uma vinculação segura é necessário o bebé sentir-se amado e seguro pela figura de referência, isto é, ele sabe que a mãe está lá para satisfazer as suas necessidades, mas também para o incentivar a brincar, explorar o meio, estando sempre presente para o reconfortar, se necessário. Aqui está a base da sua segurança interna, a certeza de se sentir amado. Uma boa vinculação permite que o bebé explore o mundo à sua volta, com confiança e segurança. É como se tivesse o seu porto seguro garantido, portanto não há que temer e pode ir e voltar quando quiser, pois, tem certeza que este não irá desaparecer.

Perto do 8º mês surge a angústia do estranho. O bebé, aos poucos, começa a perceber que o seu mundo não é só feito de mãe-bebé, mas há outros rostos e, por vezes esses rostos “roubam-lhe” a mãe, isto é, sente a ausência da mãe e fica confuso, com receio de a perder. Por isso chora imenso quando a mãe sai, vai embora, ou deixa de a ver.

Aos poucos percebe que o seu mundo é cheio de outros rostos, mas a mãe não desaparece, ela volta, portanto, deixa de sentir que “longe da vista, longe do coração”, pois o bebé passa a compreender que a mãe existe mesmo quando não a vê.

A forma como estes processos ocorrem, as inseguranças maternas, separações, perdas, maus tratos, negligência vão formar a identidade deste bebé mais ou menos seguro de si.


2.Estádio anal (2 e 3 anos): a criança entra na chamada fase do “não”, começa com o abanar da cabeça a um biberon, até conseguir pronunciar a palavra e recusar-se a uma ordem dada pelos pais. É a fase onde ela começa a aperceber que pode manipular o mundo e ter um efeito interessante. Dá-lhe gozo saber que pode ter algum controlo até nos seus esfíncteres, que pode reter ou não as suas necessidades fisiológicas e sente-se muito poderoso. Quase que parece uma adolescência precoce, pois a criança apercebe-se de uma autonomia e controlo que não tinha noção e utiliza, muito sabiamente. A criança progride cognitivamente, na sua locomoção, perceção e aprendizagem de forma muito rápida. Tudo isto com o grande “selo” da emoção, isto é, a emoção é a “cola” das aprendizagens.

Também nesta fase a forma como a criança é criticada, incentivada, o desleixe, o acolhimento vão formar uma criança mais desenrascada ou mais tímida, com mais segurança de si mesma ou mais medrosa.


Na próxima semana vemos as outras duas fases. Releia estas duas primeiras fases e pense sobre si, como foram estas fases na sua vida? O que sabe destes anos tão precoces da sua vida? O que poderá estar na base da sua insegurança hoje, ou dos seus medos irracionais, ou da sua rigidez de pensamento, ou dos seus pensamentos obsessivos? Poderá necessitar de uma ajuda profissional, pois estamos a falar de fases muito precoces e situações que podem ter sido muito dolorosas.


Contudo, se agora é pai/mãe e tem filhos nestas fases, reflita sobre as suas ações e o impacto que tem neles, ainda está a tempo de alterar.

Até à próxima semana.


Marta Faustino



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